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Honrando ao Senhor com Nossos Bens


por Luciano P. Subirá

“Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda; assim se encherão de fartura os teus celeiros, e transbordarão de mosto os teus lagares”. Provérbios 3:9,10

Temos aqui uma promessa de Deus... que tem o seu “sim” e seu “amém” (II Co.1:21). Este texto fala de Deus enchendo seu povo com a sua provisão. Não temos celeiros e lagares hoje de forma literal como os judeus daquela época, mas devemos entender que Deus está se referindo à provisão abundante. É a vontade de Deus suprir seus filhos materialmente. Há diversas promessas na Bíblia que se referem a isto (Sl.23:1; Fl.4:19).

Contudo, isto não se dá de forma automática. Esta promessa é condicional; ou seja, não se cumpre por si só, mas depende de cada um de nós para que possa ser concretizada. O texto pode ser divido em duas partes: aquilo que nós temos que fazer, e o que Deus fará depois que fizermos a nossa parte.

Esta promessa divina é sobre provisão e prosperidade (não entenda como riqueza), e revela a vontade do próprio Deus para seus filhos. Contudo, muitos crentes sinceros não a tem experimentado. Acredito que isto tem se dado justamente porque há uma dimensão de entendimento por trás desta promessa que ainda não tem sido penetrada pela maioria dos crentes.

Temos ouvido muito sobre as bênçãos do dar, e acredito nesta doutrina porque é bíblica. Mas a Palavra de Deus não nos ensina somente a dar, mas também a forma certa de faze-lo! Creio que este texto nos revela mais sobre a atitude que devemos ter, do que a dádiva em si. Veja bem: quando afirmamos que Deus responde as orações, estamos afirmando algo bíblico e verdadeiro. Mas a Escritura Sagrada não nos ensina apenas a orar, mas revela também que há uma forma correta de se fazer isto. Percebemos este princípio na epístola de Tiago, onde lemos: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal...” (Tg.4:2). Logo, precisamos aprender a pedir, mas também precisamos aprender a forma certa de faze-lo!

Acredito que o mesmo se dá com o ato de dar e ofertar ao Senhor. Foi por isso que Paulo instruiu os coríntios:

“Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria” - II Coríntios 9:7

As Escrituras falam de gente como Caim que ofertou ao Senhor sem, contudo, ser aceita, uma vez que havia algo errado em sua atitude.

O PRINCÍPIO DA HONRA

O conselho que Deus nos dá por meio de Salomão é o de HONRAR ao Senhor com nossos bens. O que está em questão aqui é a manifestação da honra, e não os bens em si. O uso dos bens é só um meio para expressar esta honra.

Deus não está interessado em nossa oferta, e sim na atitude que nos leva a entregar-lhe a oferta. Um dos maiores exemplos disto está no que Deus pediu a Abraão: o sacrifício de Isaque (Gn.22:1-10). Na hora de imolar o filho, o patriarca foi impedido de faze-lo, e o Senhor deixou claro que só queria a expressão da honra, e não priva-lo de seu filho. Mas ao pedir justamente o que Abraão mais amava, o Senhor estava lhe dando uma oportunidade de honrá-lo tremendamente.

Vemos o mesmo princípio revelado de forma inversa, quando Ananias e Safira trazem uma oferta de alto valor, mas com a motivação errada e recheada de mentira. O que aconteceu? Deus se agradou? De forma alguma! Lemos em Atos 5:1-5 que o Senhor os julgou pelo que houve. O Pai Celeste não queria o dinheiro deles, e sim uma atitude de honra.

Honrar significa distinguir, fazer diferença. Portanto, Deus deseja ser distinguido de todas as demais coisas em nossas vidas, mesmo as que temos como mais preciosas. Mas porque Deus anseia ser honrado? Sabemos que Ele é infinitamente perfeito. Logo, não tem nenhum problema de rejeição ou auto-aceitação. Então, porque Ele busca tanto ser honrado? Deus o faz pelo simples fato de que deseja que sejamos abençoados! É isto mesmo! O Reino de Deus funciona por princípios. E um dos princípios que o Senhor estabeleceu é o seguinte:
“...eu honro os que me honram, mas aos que me desprezam, desprezarei” - I Samuel 2:30

Deus não está atrás de nossas ofertas, e sim da honra expressada por meio dela:

“O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? – diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais: A mesa do Senhor é desprezível. Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? – diz o senhor dos Exércitos. Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos conceda a sua graça; mas, com tais ofertas nas vossas mãos, aceitará ele a vossa pessoa? – diz o Senhor dos Exércitos. Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta”. - Malaquias 1:6-10

Quando Deus instituiu as ofertas, esperava ser honrado através delas, e não buscava a oferta em si. Através do profeta Malaquias, o Senhor está dizendo que preferia o templo fechado a receber uma oferta que não expresse honra. Nos dois níveis de relacionamento com Deus em que nos enquadramos (o de filho e o de servo), espera-se que haja honra.

“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro cheio de bálsamo de nardo puro, de grande preço; e, quebrando o vaso, derramou-lhe sobre a cabeça o bálsamo. Mas alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício do bálsamo? Pois podia ser vendido por mais de trezentos denários que se dariam aos pobres. E bramavam contra ela. Jesus, porém, disse: Deixai-a; porque a molestais? Ela praticou uma boa ação para comigo. Porquanto os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; a mim, porém, nem sempre me tendes. Ela fez o que pode; antecipou-se a ungir meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo que, em todo o mundo, onde quer que for pregado o evangelho, também o que ela fez será contado para memória sua”. - Marcos 14:3-9

Observe o que esta mulher fez. Certamente ela honrou ao Senhor com sua atitude, e permitiu que, através de seu ato, o Senhor também pudesse honrá-la. Estamos estudando acerca desta mulher por ordem de Jesus. E isto não foi decidido por Ele só para termos o que aprender, mas para que esta mulher jamais fosse esquecida pelo que fez.

Se a honra que o Senhor nos concede está ligada à honra que para com ele praticamos, então podemos dizer que esta mulher, Maria de Betânia, conseguiu ir fundo em sua atitude. Em geral, este texto é usado para falar acerca de adoração – e concordo com isso – mas, o que a maioria dos crentes não se apercebe é que seu contexto envolve dinheiro, e não música. Este é um tipo de adoração silenciosa, mas que certamente enche o coração de Deus.

O que podemos aprender com esta mulher e as pessoas que estavam naquele banquete? A primeira coisa que Deus falou ao meu coração neste texto, é que normalmente vinculamos nossas ofertas a uma necessidade específica.

Como pastor percebo muito bem isto; sempre que desafiamos as pessoas a ofertarem com vistas a um propósito específico, elas correspondem mais. E quero declarar que temos errado nesta matéria. Vemos exemplos bíblicos de ofertas que foram levantadas visando suprir uma necessidade, como foi no caso do tabernáculo de Moisés, por exemplo. Isso em si não é errado, mas há uma mentalidade errada que entrou juntamente com a prática deste princípio: a de que temos sempre que achar um destino de utilidade justificável para a oferta.

Quando aquela mulher quebrou o vaso e derramou o perfume, ela estava praticando um desperdício. Não havia razão – diante do raciocínio humano – para se fazer aquilo. E estamos falando de uma oferta altíssima, especialmente para a simplicidade que enxergamos naquele lar! Mas ninguém reclamou do valor que a mulher decidira abrir mão por amor ao Senhor. Trezentos denários era muito dinheiro. Um denário era a paga de um dia de trabalho. Os judeus trabalhavam seis dias por semana, portanto, em um mês de 30 dias, ganhavam cerca de vinte e seis denários (descontando os quatro sábados de descanso); o perfume “desperdiçado” podia ser vendido (de segunda mão) por trezentos denários, mas talvez tenha custado até mais que isso para a mulher. Isto dava mais de um ano de salário de um trabalhador normal!

Note que ninguém se importou com a oferta em si, mas com o fato dela não poder ser utilizada dentro do que era esperado fazer com o dinheiro. Da mesma forma, acredito que temos perdido a essência da oferta, que é dar ao Senhor honra. Só pensamos naquilo em que o dinheiro pode ser aproveitado. Se a oferta for para melhorias no templo, todo mundo dá, pois vai redundar em conforto para quem está dando. Mas quando se trata de ofertar para quem está no campo missionário, não nos sentimos tão dispostos! Você não acha isso errado?

Não temos nos preocupado de verdade em agradar ao Senhor. A maioria das mensagens sobre contribuição nos faz crer que dizimar e investir num título de capitalização são a mesma coisa. Não nego que Deus fez promessas acerca de nos abençoar; Malaquias 3:9-12 é muito claro sobre isto. Mas o que faz com que Deus nos abençoe? Não é o dar em si, mas a atitude de honra que demonstramos por trás do dar.

Há crentes que dizimam, mas sonegam os impostos, pisam nas pessoas com quem negociam para ganhar dinheiro, exploram os necessitados e acham que porque dizimaram Deus lhes prosperará. O dízimo traz bênçãos enquanto está sendo uma expressão de honra ao Senhor. Mas quando o isolamos deste princípio, estamos literalmente anulando a promessa do Senhor. Honrar ao Senhor com nossos bens diz respeito a muito mais do que dizimar; o dízimo é apenas uma parte disto (se entregue de forma correta).

QUEBRANDO O SENHORIO DO DINHEIRO

A Bíblia é clara em nos revelar que o dinheiro é um concorrente ao senhorio de Cristo em nossa vida:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. - Mateus 6:24

Paulo chamou a avareza de idolatria (Cl.3:5). Jesus disse que o que é elevado entre os homens perante Deus é abominação (Lc.16:13-15); e ele falava acerca da ganância dos fariseus quando fez esta afirmação.

No livro “O Seu Dinheiro” (Bless Editora), Howard Dayton afirma que “há na Bíblia quinhentos versículos sobre oração, menos de quinhentos sobre a fé, porém, mais de dois mil trezentos e cinqüenta sobre dinheiro e posses”. Este não é um assunto sem importância. As Escrituras falam mais dele do que sobre muitos outros temas que julgamos vitais para uma vida cristã sadia.

O dinheiro em si não é problema. A Palavra declara que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (I Tm.6:10). Alguém pode amar o dinheiro sem tê-lo, e alguém pode ter dinheiro sem amá-lo. O salmista declarou: “Se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração” (Sl.62:10). Ninguém precisa jogar o dinheiro fora; o problema não é o crente ter dinheiro, e sim o dinheiro ter o crente!

Já vimos que Deus não está interessado em nosso dinheiro, e sim na honra que lhe conferimos. Mas porque Deus deseja justamente ser honrado com nossas finanças? Quando conseguimos honrar ao Senhor justamente nesta área que mais domina e prende nosso coração, estamos cumprindo o verdadeiro sentido da palavra honra: fazer distinção e coloca-lo acima dos nossos maiores valores.

Precisamos aprender a dar porque amamos mais a Deus do que nossos bens, e não só pela utilidade da oferta em si. Fico pensando qual seria minha reação se visse algum irmão de nossa igreja queimar alguns maços de notas de cem reais no culto de adoração... o que a aquela mulher fez foi algo parecido. Ela não deixou aproveitar nem o vaso! Não acredito que devemos cultivar uma atitude de desperdício, mas que devemos aprender a dar mesmo se o dinheiro não se aproveitasse para nada.

Dar só para dizer a Deus que ele está acima do dinheiro em nossas vidas já seria motivação suficiente para honrá-lo. Contudo, o Senhor ainda permite que o dinheiro seja utilizado no avanço do seu Reino e que ainda redunde em bênçãos para aquele que dá. Mas certamente precisamos mudar nossa mentalidade acerca deste assunto e assumir a ótica de Deus para nossas ofertas.

COMO DEUS VÊ NOSSAS OFERTAS?

O Senhor vê nossas ofertas de modo diferente do que costumamos ver. Observe:

“E sentando-se Jesus defronte do cofre das ofertas, observava como a multidão lançava dinheiro no cofre; e muitos ricos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou dois leptos, que valiam um quadrante. E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam ofertas no cofre; porque todos deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para seu sustento”. - Marcos 12:41-44

Assim como no dízimo Deus estabeleceu uma proporção (ou fatia) do orçamento a ser devolvida para Ele, também no que diz respeito às ofertas Ele considera a possibilidade de cada um. Este texto bíblico nos revela que uma viúva pobre deu mais do que os ricos que lançavam muito dinheiro. Para eles, aquelas grandes quantias era troco, mas para a viúva, significava tudo o que ela possuía para viver.

Quem mais honrou a Deus com sua oferta? Certamente foi a viúva que deu tudo, e não os ricos. Ela demonstrou amor genuíno, os outros só cumpriram com sua obrigação... mas infelizmente temos a mania de achar que a oferta só tem sentido quando faz diferença no caixa da Igreja. Da mesma forma como com a mulher que quebrou o vaso de alabastro, esta viúva também não fez diferença para o caixa da Igreja (prefigurada no templo). Mas demonstrou honra, e isto é o que importa.

HONRA COM BENS QUE NÃO CHEGAM AO REINO

A Bíblia fala de outras ofertas que não produzem diferença no caixa e contabilidade da Igreja:

“O que se compadece do pobre empresta ao Senhor, que lhe retribuirá o benefício”. Provérbios 19:17

Há ocasiões em que seremos levados a exercer misericórdia e dar esmolas. Este dinheiro não vai fazer diferença no caixa e contabilidade da Igreja, mas Deus o recebe como se fosse para Ele. E recompensa aquele que se preocupa com o que é importante para Ele.

No chamado Sermão da Montanha, Jesus nos ensinou a ter uma atitude de não brigar por causa dos bens materiais. Há momentos em que a melhor atitude é abrir mão do que temos:
“e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa”. Mateus 5:40

Paulo ensinou o mesmo princípio aos irmãos de Corinto:

“Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, constituís como juízes deles os que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio, que possa julgar entre seus irmãos? Mas vai um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos? Na verdade já é uma completa derrota para vós o terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes a fraude?” - I Coríntios 6:4-6

Quando deixamos de lado uma causa que é nosso direito, simplesmente para evitar um escândalo ou mau testemunho, e fazemos isto de coração, para que o Senhor seja honrado, mesmo sem que o dinheiro vá para o “caixa” do Reino de Deus, o Senhor o recebe como se tivesse ofertado na igreja. Isto também é honrar ao Senhor com nossos bens!

A Bíblia ainda nos fala de Jó, a quem o diabo roubou todos os bens (Jó 1:12), mas que manteve uma atitude correta diante das perdas. Sua mulher lhe disse para amaldiçoar seu Deus e morrer, mas ele demonstrou crer que seu Redentor vivia e mudaria sua condição. E por fim, não vemos o diabo devolvendo o que roubou, mas Deus lhe dando em dobro tudo o que possuía! (Jó 42:10).

Acredito que até mesmo se mantivermos uma atitude correta diante das perdas, mesmo sem ofertarmos, só de agirmos corretamente, que Deus recebe isto como honra, a ponto de restituir as perdas causadas pelo diabo.

Precisamos aprender a honrar ao Senhor com nossos bens e atitude em relação a eles, porque este é um caminho que, além de agradar a Deus, nos levará a usufruir das suas abundantes bênçãos.


Autor: Luciano P. Subirá
www.orvalho.com

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