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CAMINHANDO ENTRE JARDINS NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

Pastor Marcelo Gomes

Texto escrito originalmente para publicação em “O Estandarte”

Lugares tornam-se especiais em nossas vidas pela lembrança de momentos significativos que nos proporcionaram. É assim quando visitamos aquele restaurante em que pedimos a mulher amada em casamento, ou quando revemos aquela que foi nossa primeira casa, ou quando voltamos ao bairro ou à escola em que fomos criados. Parece-nos que a história continua viva e presente em cada cômodo, em cada parede, em cada detalhe. Não somos poucos os que choramos de emoção em reencontros como estes.



O mesmo acontece com alguns lugares mencionados nas Escrituras. Quem nunca tentou reconstruir o ambiente da pobre estrebaria onde Cristo veio a nascer? Quem nuca se viu caminhando pelas ruas da Galiléia, onde tantos milagres e ensinamentos Cristo concedeu ao povo maravilhado? Quem nunca imaginou a velha Jerusalém, cujas ruas e casas mancharam-se com o sangue do Cordeiro de Deus? Não é por acaso que a chamada “Terra Santa” continua ainda hoje objeto de tantas disputas, pesquisas e interesses.



Mas tão extraordinários quanto os lugares que comumente alimentam nossa fé e nossa imaginação são também os três principais jardins das Escrituras: o Jardim do Éden, o Jardim do Getsêmani e o Jardim da Nova Jerusalém. Todos figuram como símbolo de realidades teológicas importantes e profundas, as quais nos ensinam, enriquecem e desafiam para uma vida de compromisso, fé e expectativa na futuridade do Reino de Deus. E a um passeio por estes jardins somos convidados pelo Espírito do Grande Criador.

O Jardim do Éden: Símbolo de uma Realidade Perdida



O Éden é o jardim da Criação. Nele as implicações da iniciativa criadora de Deus alcançavam sua plenitude. Nele o homem foi colocado e desafiado a cumprir suas mais importantes vocações: a ecológica, no exercício do domínio como cuidado e proteção da natureza (Gn 1:28b e 2:15); a ecumênica, no desafio da multiplicação da espécie para a manutenção da vida humana (Gn 1:28a); e a familiar, no privilégio da união conjugal e sexual como realização e complementariedade (Gn 2:21-25). O Éden era símbolo da perfeição em Comunhão.



Mas o Éden tornou-se também o jardim do orgulho e do pecado. Nele homem e mulher desenvolveram sua mais intolerável ambição – “sereis como Deus” (Gn 3:5). Nele a comunhão com Deus em obediência foi rompida, e as conseqüências desse rompimento evidenciaram-se irrevogáveis e desastrosas. A vocação ecológica ganhou um inimigo: a dificuldade e o desgaste no desenvolvimento do trabalho (Gn 3:17-19). A ecumênica, pela manutenção da vida, foi verdadeiramente “golpeada” pelo atentado à vida (Gn 4:8). A familiar passou a gerar dores, sofrimento e desigualdades (Gn 3:16). O Éden tornou-se símbolo de distanciamento e morte. Outro jardim estava para entrar em cena!

O Jardim do Getsêmani: Símbolo de uma Realidade em Conflito



O Getsêmani é o jardim da angústia. Nele a luta contra a morte e o pecado chegou às últimas conseqüências. Para ele o Filho Eterno de Deus, agora encarnado, conduziu-se em tristeza e sofrimento a fim de preparar-se para a batalha (Mc 14:34). Foi ali também, é verdade, que mostrou-se frágil e necessitado, como qualquer um de nós, chegando a buscar alternativa para seu destino trágico e iminente. Sem perder, porém, a humildade (Mc 14:35 e 36). Nele o abandono e a indiferença, característicos da atual condição humana, também se fizeram notar (Mc 14:37). O Getsêmani era símbolo da dor e do medo.



Mas o Getsêmani transformou-se em jardim de vitória na luta da vida contra a morte. Nele o Cordeiro Santo preparou-se para Sua entrega definitiva em favor do ser humano (Mc 14:41). Nele Jesus tomou sua decisão mais importante: vale a pena dar seqüência a este plano de salvação e de redenção (Mc 14:42). Foi nele que o Messias superou as barreiras da indiferença e do ódio, revelando Seu grande amor para com todos os homens e mulheres feitos à imagem e à semelhança de Deus Pai. O Getsêmani tornou-se símbolo de amor sacrificial e de vitória. Estava aberto o caminho para o último jardim!

O Jardim da Nova Jerusalém: Símbolo de uma Realidade Esperada



O jardim da Nova Jersusalém é o jardim da Nova Criação. Nele a árvore da vida – presente no primeiro jardim mas proibida para o ser humano por causa do pecado – ressurge como bênção e privilégio de todos os seus visitantes-habitantes (Ap 22:2). Nele a água cristalina do descanso e do refrigério definitivos corre livremente e sem contaminações (Ap 22:1). Nele o distanciamento dá lugar a uma nova e mais profunda comunhão em relacionamento de serviço e felicidade, pois o próprio trono do Deus Altíssimo estará presente junto com Seu povo (Ap 22:3 e 4). Enfim, nele as trevas que tomaram conta dos céus em pleno dia agora são vencidas pela luz que jamais se apaga (Ap 22:5). A Nova Jerusalém é símbolo de Vida Eterna.



Mas a Nova Jerusalém deve ser também símbolo de esperança e de compromisso. Nela e em seu aguardo os homens e mulheres de todos os tempos, os quais também se dispuseram a crer na palavra e no testemunho dos Profetas e do Cordeiro, encontram a motivação e a força necessárias para esperar a Sua vinda (Ap 22:6 e 7a). Nela e na expectativa da herança que ela representa os filhos de Deus encontram desafio e incentivo para a perseverança na obediência e na fidelidade (Ap 22:7b). A Nova Jerusalém e sua maravilhosa “praça” tornaram-se para nós e para toda a Igreja de Jesus símbolo de expectativa escatológica e alegria sem fim. Outro jardim já não será necessário!



A “passagem” do Jardim do Éden para o Jardim da Nova Jerusalém está vinculada ao desafio do Getsêmani. A vitória contra o pecado no restabelecimento final e definitivo da Comunhão com Deus está intimamente relacionada ao desafio da angústia e do sofrimento no embate da vontade humana contra a proposta extraordinária e difícil da vontade divina. E esta deve prevalecer sobre aquela. O triunfo sobre a morte na participação da vida eterna passa pela identificação com Jesus na solidão do jardim da provação. Ademais, a história da Salvação está traçada e definida de seu início ao seu fim.



Cabe-nos, portanto, participar com Cristo de seus sofrimentos, para que com Ele também participemos da Glória. Cabe-nos declarar “seja feita a Tua vontade e não a nossa”. Cabe-nos assumir o desafio do discipulado na certeza de que “o espírito está pronto mas a carne é fraca”. Que o Deus da Vida nos abençoe pelo Seu Espírito de Amor e de Fortaleza! Um bom passeio. Não deixe de aproveitar a beleza e o cheiro das flores. E lembre-se: prepare-se para os espinhos...

Pastor Marcelo Gomes

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