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Violência gera violência. Será?


Estamos todos chocados com os altos índices de violência. Estão em toda parte: nas ruas, nos morros, nos estádios, nas escolas, no trânsito, em casa. Multiplicam-se progressivamente, assim como os chamados programas “policiais”, especializados em explorar o tema. Ninguém está absolutamente seguro. O medo e a neurose já dominam boa parte da população, que ainda assiste impotente ao avanço das guerras e do terrorismo.



Há tempos ouvi uma interessante definição sobre o que seria “estado de guerra”: estabelece-se quando os pais enterram seus filhos. Não é o que vemos todos os dias? Não é o que, talvez, muitos de nós já sentimos na pele? Não é o que acontece nas festas, nas escolas, nas universidades, entre os nossos jovens? Não é o que vem se repetindo a cada encontro de “torcidas organizadas”? Mais um menino morreu esta semana. Espancado.



Todo este quadro, contudo, não é nenhuma novidade. A violência sempre esteve presente nas relações interpessoais desde o pecado “original”. Basta lembrar de Caim, o qual matou seu irmão Abel com as próprias mãos. Entre seus descendentes estiveram Tubalcaim, fabricante de ferramentas de bronze e ferro – inclusive, e provavelmente, armas – e Lameque, outro terrível assassino. De lá para cá mudaram os métodos e o alcance da violência; não suas razões.



As razões da violência podem ser identificadas de um ponto de vista sociológico: a individualização do sujeito – uma das características da pós-modernidade – e a relativização dos valores (pluralismo), associadas às discrepâncias sócio-econômicas de um sistema capitalista neo-liberal, promovem uma competitividade utilitarista pelos bens de consumo – conferentes de identidade e auto-estima. O outro, conseqüentemente, emerge como adversário, a ser derrotado pelas armas da indiferença e, se necessário for, da violência. Deixou de ser pessoa.



Mas as razões da violência também podem ser identificadas de um ponto de vista teológico. O pecado, agente promotor de distanciamento entre homem e Deus, destitui o ser de seu sentido e propósito, tornando a vida vazia e extenuante. Cansado de si mesmo, o homem sem Deus procura por experiências que lhe preencham a alma. Nada encontra senão prazeres circunstanciais. Sem esperança, torna-se obsessivo e compulsivo; agride a si mesmo e aos outros. Violenta-se e promove a violência. Entrega-se à morte e aos seus efeitos.



E qual a fonte do pecado? Orgulho. Todo pecado é orgulho. Foi por orgulho que Lúcifer usurpou a soberania de Deus (no trono de Deus me assentarei...) e foi por orgulho que homem e mulher lhe foram desobedientes (sereis como Deus...). Foi por orgulho e nada mais que Caim matou seu irmão Abel (se procederes bem, serás aceito...). O orgulho é a razão fundamental pela qual o ser humano ultrapassa os limites estabelecidos e rejeita o direito alheio à liberdade. Por causa do orgulho sente-se superior e nega-se a reconhecer a dignidade do outro. O orgulho gera violência.



Não há, portanto, outro “remédio” contra a violência que não um combate ao orgulho como sua razão fundamental. E nenhuma arma será eficiente se forjada a partir da mesma base (força, guerra, armas, ameaças). Pelo contrário. Violência, conquanto não gere violência, alimenta-se de si mesma e escraviza seus agentes. O orgulho próprio sempre desejará superar e subjugar o orgulho alheio. E vice-versa. Só há uma arma eficaz contra a violência: Um chamado corajoso ao arrependimento e à humilhação. Nas palavras de Jesus: “aprendei de mim, que sou manso e humilde...”.



É, pois, papel da igreja combater a violência e o orgulho que lhe traz à vida com a mensagem do evangelho de Cristo, o qual foi violentado por amor e não revidou. Para tanto, deverá arrepender-se e humilhar-se antes de tudo e antes de todos. Não poderá mais alimentar seu próprio orgulho e arrogância com “teologias” que lhe exaltam a força e a prosperidade. Deverá, pelo contrário, assumir sobre si mesma as marcas de Jesus e servir as pessoas. Sofrer por elas. Orar por elas e com elas anunciando a reconciliação com Deus e o perdão.



Em outras palavras, deverá a igreja anunciar a possibilidade de um reencontro com o Sentido e o Propósito para a vida humana. Livre do orgulho, do pecado e em paz com Deus, o homem-pecador-regenerado tornar-se-á capaz de reconhecer no outro a dignidade que descobriu para si mesmo em Deus. Poderá amá-lo, portanto, como a si mesmo. E onde houver amor, não haverá espaço para a violência, em nenhuma de suas manifestações. Resultado: o amor lançará fora todo o medo e a neurose próprios de uma sociedade aprisionada pela morte. E Cristo, modelo de amor e de humildade, será gerado pelo Espírito em cada coração.



Ao combate! Com as armas do Amor!

Pastor Marcelo Gomes
www.espacopalavra.com.br

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