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QUEM PRECISA DA IGREJA?

Marcelo Gomes



Já ouvi questionamentos do tipo: “sou cristão, acredito em Deus, leio a Bíblia regularmente e faço minhas orações; por que preciso de uma igreja?”. Pior ainda: “por que preciso me tornar membro de uma igreja? Não posso simplesmente freqüentar cultos e reuniões de meu interesse, sem que participe da organização ou da instituição?”. São questionamentos aparentemente lógicos e bem próprios do contexto em que vivemos.



Alguns, mais familiarizados com os evangelhos e algumas informações sobre o ministério de Jesus, argumentam que o Mestre não tinha uma igreja e que jamais defendeu o surgimento de uma instituição religiosa formal, o que é absolutamente verdadeiro. Concluem, portanto, sem que uma coisa leve à outra necessariamente, que a igreja é uma iniciativa humana, inadequada, sem base bíblica e sem importância para a vida cristã comum. Engrossam as fileiras dos que alegam viverem sua fé de modo pessoal e na discrição da própria intimidade. Haverá uma resposta também para estes?



Em primeiro lugar, não podemos continuar encarando a relação com a igreja a partir de critérios de necessidade. Não se trata de precisar da igreja ou de quaisquer serviços religiosos, mas de chegar à igreja como quem chega a Cristo fora da Galiléia e distanciado dois mil anos daquela época em que o Senhor andou por suas ruas. Jesus não fundou uma igreja porque era, ele mesmo, o foco e a referência objetiva de todos que se aproximavam. Depois de sua morte e ressurreição, enviou o Espírito para continuar sua obra e foi este Espírito quem fundou a Igreja, para ser o corpo vivo do qual Cristo mesmo é a cabeça.



A igreja não é uma simples instituição, mas a comunidade visível e atuante do Senhor, organizando-se em torno de sua palavra e atraindo outros para a experiência da fé e da santificação. Nenhuma espiritualidade individual, administrada pessoalmente no secreto da vida em casa, produzirá frutos de justiça representados por pessoas que se aproximam, vêem e crêem na Palavra de Deus. Pois, se começar a existir qualquer comunhão de tempo ou objetivo, lá estará o germe que conduzirá à institucionalização do relacionamento (horário para os encontros, programa de atuação, definição de espaço geográfico, etc). E não adianta imaginar que um “sem-igreja” encaminhará outros para a vida comunitária sem que seja exemplo e modelo. Não vai funcionar.



Outra razão para a existência da igreja é a importância de viabilizar o livre exercício dos dons espirituais com vistas à edificação do corpo. Aqui poderíamos dizer que não é você que precisa da igreja, mas ela, como família de Cristo, que precisa de você. Há dons e talentos em sua vida, todos dados por Deus, sem os quais a igreja só poderá seguir a passos mais lentos e curtos. É claro que você pode decidir que não tem nada a oferecer ou que há outros desempenhando o que seriam suas funções, mas deverá preparar-se para justificar diante de Deus essas alegações. Lembra-se da parábola dos talentos?



Por fim, vale mencionar que a membresia é mais que submissão à formalidade da igreja; é sujeição à sua autoridade de ensino, disciplina e cuidado. É compromisso com sua existência comum, possibilitada financeiramente e representada fisicamente nos diversos setores da sociedade. É reconhecimento da fundamental relevância de sua estrutura de serviço, com obreiros dedicados em tempo integral e regime profissional à causa, na certeza de que permanecerá em pé para ser o refúgio e o farol para as próximas gerações. Mas aqui, neste caso, é necessário acreditar muito, acreditar mesmo, que é obra de Deus e não alternativa de religião. Não sei se todos acreditam.

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