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SOBRE CAÇADORES E SEMEADORES.

Marcelo Gomes



Gosto de usar maniqueísmos para ilustrar a vida. Facilitam as coisas. Ajudam a distinguir entre modos de lidar com as circunstâncias de forma que qualquer um possa identificar-se com uma de duas possibilidades.



Costumo dizer que há dois tipos de pessoas: caçadores e semeadores. Caçadores vivem em busca de satisfação imediata. Semeadores providenciam hoje as soluções que desejarão amanhã. Caçadores apropriam-se de recursos que não produziram. Semeadores plantam no presente os frutos que esperam colher no futuro.



O perfil caçador é agressivo e predador. Faz acreditar que sucesso e felicidade resultam da exploração do mundo e de suas potencialidades. A vida é uma selva, na qual vigora a lei do mais forte. Sorte e esperteza são termos que ocorrem abundantemente no vocabulário caçador.



O perfil semeador é paciente e contribuinte. Resulta de uma percepção da realidade a partir de categorias como causa e efeito. “Tudo que o homem semear, isso também ceifará”. A vida é um campo, no qual o suor do rosto viabiliza o comer do pão. Perseverança e esperança são palavras que orientam o estilo de vida semeador.



O problema do perfil caçador é sua insaciabilidade. Por mais que conquiste, jamais se satisfaz. Na vida caçadora, o que não é consumido, apodrece. Não há descanso ou confiança. Não há paz; sequer esperança. O futuro do caçador é nebuloso e caminha na direção da escassez e da extinção. Não há caça que dure para sempre.



A vantagem do perfil semeador se traduz em provisão e continuidade. Exige, num primeiro momento, esforço e visão, mas recompensa seus adeptos com fartura, tranqüilidade e gratidão. A boa semente sempre dará origem a uma boa árvore, que dará frutos na estação própria e cujas folhas não murcharão. O futuro do semeador é aguardado com fé e celebrado com alegria; jamais temido.



Cristãos são chamados a semear. Sabem que com Deus não se brinca e de Deus não se zomba. Acreditam em milagres e soluções imediatas, mas organizam-se de tal forma que possam sempre colher os frutos de suas sementes. Não murmuram e não sucumbem a uma religião de consumo com uma ética baseada em prazer.



Jesus foi um semeador. Ensinou que, se um grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas se morrer produz muito fruto. Comparou o evangelho às sementes que um semeador lançou pelo caminho e falou do Reino de Deus como se fora um grão de mostarda. Colheu, pela fidelidade do Pai, um nome sobre todos e um povo que ninguém pode contar.



O diabo, desde o princípio, é caçador. Invejou um trono que não construiu, um mundo que não criou e uma glória que jamais mereceu. Tentou o próprio Jesus com seu apelo caçador: “manda que as pedras se transformem em pão”. Uma pena que ainda faça suas vítimas e ainda encontre quem caçar.

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